Expectativa é de alta de 3% a 8%, com aposta em linhas mais seguras
POR ANA PAULA RIBEIRO
SÃO PAULO – Os sinais cada vez mais fortes de que os juros devem começar a cair e a expectativa de que a economia se recupere levam analistas e os próprios bancos a apostar na retomada do crédito para 2017. Mas a expansão a taxas de dois dígitos ainda está distante e a retomada tende a ser lenta, e puxada por linhas de crédito consideradas seguras para os bancos — como o consignado e o habitacional.
Desde janeiro, o total de crédito apresenta retração de 3,2% e, mesmo que ocorra uma melhora até dezembro, o desempenho no ano seguirá negativo. Analistas projetam uma queda de 2% a 5%, o pior desempenho desde o início dos anos 2000. Para 2017, as projeções são de alta, e variam de 3% a 8%. Até 2014, a taxa de expansão das carteiras superava os dois dígitos.
Por trás de tamanha cautela está o desemprego, que chegou a 11,6% e deve continuar em patamar elevado. Já os pedidos de recuperação judicial seguem em alta (1.479 no ano, alta de 62%), sinalizando que esses clientes também terão dificuldade para assumir novos compromissos financeiros.
— Os bancos vão privilegiar as operações mais seguras, como financiamento imobiliário e de veículos e o crédito consignado. Esses podem ser os carros-chefes nesse momento de retomada. Para empresas, a recuperação deverá vir nas operações com recebíveis de cartões de crédito e duplicatas — disse Miguel Ribeiro de Oliveira, coordenador de estudos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Nos financiamentos de carros e apartamentos, o bem pode ser retomado em caso de inadimplência. No consignado, o desconto da parcela do empréstimo é feito na folha de pagamento e, caso o trabalhador seja demitido, uma parte da verba rescisória serve para quitar a dívida. Lógica similar vale para as operações das empresas.
Geraldo Rodrigues Neto, superintendente executivo de produtos para a pessoa física do Santander, diz que o banco já percebeu um aumento da demanda, mas que esse comportamento deve ganhar força ao longo de 2017.
— Temos uma expectativa que as linhas do consignado e do habitacional possam ter uma aceleração mais consistente. São créditos relacionados ao consumo e que reagem de forma mais rápida com o aumento da confiança — afirmou.
INADIMPLÊNCIA DE 3,6%
O executivo nota que os créditos que tiveram demanda em 2016, como o rotativo e cheque especial, são mais ligados à queda de renda e a emergências financeiras. Nos próximos meses, a expectativa é de procura maior por linhas ligadas ao consumo e, ao mesmo tempo, mais seguras.
Para João Moraes, economista da consultoria Tendências, os bancos já mostram disposição maior em emprestar e as pessoas, de contratar crédito, mas isso não será suficiente para evitar uma queda no estoque total de empréstimos este ano, que deve ter um recuo de 2,2%. Mas voltando a crescer, 6,6% no ano que vem.
— Com a melhora da confiança, mais famílias voltarão a consumir bens duráveis, e isso tem um impacto sobre o mercado de crédito. Este ano, as famílias deram preferência a quitar dívidas e por isso a queda expressiva nos volumes. Essa é uma das razões para a inadimplência não ter subido tanto — disse Moraes, acrescentando que a retomada do crédito por parte das empresas deverá ser mais lenta que na pessoa física.
A inadimplência no sistema está em 3,6%, alta de 0,5 ponto percentual em 12 meses. E essa alta só não foi maior devido a uma combinação de fatores. Os bancos, sabendo do ano difícil que seria 2016, restringiram a concessão de crédito. Do lado da demanda, empresas e famílias endividadas, ou temendo o desemprego, adiaram planos de consumo, fugindo do crédito.
Mesmo assim, a inadimplência entre as empresas subiu acima do esperado, chegando a 3,1%. Após dois anos de recessão, boa parte está com capacidade ociosa elevada, sem necessidade de tomar crédito.
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